29 de set. de 2012

Garoto perfeito




Menino simpático, repleto de valores familiares, simples no seu jeito de ser e educadíssimo. Menino perfeito, certo? Errado. Alan Fonteles, quando ainda era criança, se viu obrigado a amputar as suas duas pernas devido a uma infecção e passou a conviver o resto da sua vida com próteses mecânicas - não que para ser perfeito seja necessário ter as duas pernas.

Presume-se, logo, que sua vida está arruinada, certo? Errado novamente. O garoto de boníssima índole enfiou em sua cabeça que iria trazer medalhas para o Brasil no atletismo, não importasse como. Batalhou duro para isso, mas acabou com o resultado que queria.

Em 2008, ganhou a medalha de prata no revezamento e nesse ano bateu a lenda Oscar Pistorius nos 200m T44(classe para atletas amputados) , em uma histórica arrancada. Na prova, assim como em sua vida, saiu lá de trás, do buraco, para a primeira posição. Não só venceu a prova: superando todas as dificuldades, venceu na vida.

E como se não bastasse, o sucesso não lhe subiu à cabeça. Muito simpático, como sempre, me respondeu a 7 perguntas muito interessantes, por telefone:



  • Você ganhou nos 200 metros do Oscar Pistorius, considerado o Usain Bolt paralímpico. É um feito e tanto... Como é viver com essa nova condição de ídolo? 

É uma sensação de realização, dever cumprido. Eu treinei muito para isso, me deixa realmente muito feliz. Passa pela minha cabeça a condição que eu tinha desde criança, a dificuldade,mas vejo que hoje tudo valeu a pena. Estar representando bem o meu país é uma sensação muito boa.

  • Os 200m são mesmo a sua especialidade? No mundial do ano que vem, na França, pretende fazer as mesmas três provas de Londres ou focar só nos 200m? 


A minha especialidade é os 200m, mas vou sempre arriscar as 3 provas. Quero me especializar também nos 400m. 


  • Na infância e adolescência você teve dificuldades em conseguir boas próteses? 
Tive sim... o meu primeiro patrocínio e a ajuda vieram apenas em 2008... foi muito complicado, mas graças a Deus agora está dando tudo certo e estou tendo o apoio necessário.


  • Como explicar o fato de o Brasil ir melhor na Paralimpíada do que na Olimpíada? 
Eu não sei exatamente o porquê, mas o Brasil paralímpico tem uma delegação de atletas muito bons e o investimento também está crescendo cada vez mais. Tenho certeza que os atletas olímpicos, assim como nós, vão para fazer o seu melhor.

  • Atletas paralímpicos não gostam de ser vistos com olhar de compaixão. Querem ser tratados pelas vitórias e não pelas deficiências. É assim mesmo? 
Sim, é isso mesmo, o esporte paralimpico é um esporte de honra. A gente treina e se dedica muito, não queremos ser vistos como coitados .Somos atletas profissionais em busca do nosso melhor.


  • O esporte paralímpico brasileiro recebe as verbas e cuidados que merece? 
Mesmo com as dificuldades normais dos atletas, o esporte paralímpico está crescendo muito e tenho certeza que só tende a melhorar a partir de 2016, quando receberemos os jogos.


  • Seus objetivos para 2016, quais são? Pretende seguir os passos de Pistorius e participar também das Olimpíadas? 
Em 2016 o meu foco será apenas as paralímpiadas. Depois penso nessa possibilidade, mas o que eu pretendo é participar do Troféu Brasil no ano que vem.

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