17 de mai. de 2015

A política de cotas é sinônimo de justiça social

A abolição da escravatura não foi acompanhada, no Brasil, de nenhuma iniciativa do Estado de reparação do dano cometido à população negra. Entender essa afirmativa analisando-a historicamente é ponto de partida para a reflexão a respeito das políticas de cotas sociais e raciais no Brasil. 

O Censo Demográfico realizado em 2010 mostrou que, pela primeira vez na história, o Brasil deixou de ser um país majoritariamente branco. Os negros e pardos, de acordo com a terminologia do IBGE, representam, hoje, mais de cinquenta por cento da população brasileira. No entanto, por conta de um passado de servilismo e submissão, de total exploração, essa representação não se espelha de forma igualitária na sociedade. Pesquisas apontam que, por mais que a porcentagem de negros no país ultrapasse a de brancos, apenas 25% dos estudantes do ensino superior são pretos ou pardos. Há quem tente buscar exemplos de negros que fazem sucesso profissional - existem, mas são poucos - como a constatação de que o racismo brasileiro é uma mentira. Não é.  


As oportunidades nos bancos escolares do nível superior para brancos e negros é assustadoramente desigual. É fundamental, portanto, a adoção de uma política de cotas nas universidades brasileiras. Assim, corrigir um passado injusto, desigual e escravocrata deve ser função do Estado, que não pode cruzar os braços diante de uma situação de tamanha negligência. Defender a meritocracia, alegando que as cotas as destroem, não pode ser aceito em um sistema que não fornece igualdade de oportunidades e acesso.

O que está em jogo não é uma simples segregação por conta de algum DNA mitocondrial ou pela concentração de melanina na pele. A discriminação se dá por um contexto de significados e efeitos históricos, que aparecem a partir da percepção de fenótipos como a cor de pele e à situação do sujeito – sendo a interpretação desses algo meramente subjetivo. Portanto, minimizar os efeitos das desigualdades sociais no ensino superior, e, dessa forma, aumentar a participação de negros nas universidades públicas ajuda na identificação da população negra para além de estereótipos de faxineiras e traficantes, vá lá, jogadores de futebol e sambistas. 

Não vale o torto raciocínio segundo o qual o sistema de cotas, por favorecer um grupo determinado, é “um racismo combatendo um racismo”. Trata-se de algo reducionista que desconsidera um cenário estrutural de preconceito. A inclusão de cotas diminui o abismo histórico entre etnias existentes na sociedade brasileira. Não segrega. Pelo contrário, intensifica a participação dos negros e aumenta a oportunidade de alcance a um emprego, ainda que o mercado de trabalho continue sendo um ambiente preconceituoso.

Em suma, a questão gira em torno de um ponto fundamental: trata-se de uma medida paliativa, mas que não impede que se combata o mal pela raiz. Deve-se investir em educação e devem-se aumentar as oportunidades. Mas as cotas continuarão exercendo um papel fundamental na sociedade enquanto ainda houver racismo e injustiça social. Cotas é sinônimo de justiça social. 


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